Eles são caricatos, infantis e irreais. Porém diversos personagens infantis, das histórias em quadrinhos ou dos desenhos animados têm, na fala, características bastante humanas. E muitos deles poderiam dar um pulinho no consultório de um fonoaudiólogo para melhorar seus problemas de comunicação (que muitas vezes causam muita confusão). Afinal, não é porque se é um porquinho, um pato ou um coelho que é preciso conviver com estas condições relativamente simples de serem resolvidas.
A convite do portal “O que eu tenho?”, a fonoaudióloga Débora Befi,
coordenadora do Departamento de Linguagem da Sociedade Brasileira de
Fonoaudiologia e pesquisadora da Faculdade de Medicina da Universidade
de São Paulo (FMUSP), esqueceu por alguns momentos que eles são
personagens fictícios e analisou os principais problemas
fonoaudiológicos em personagens de desenhos animados infantis.
Cebolinha e Hortelino Troca-Letras estão separados por uma longa
distância geográfica (sem contar que vivem em épocas diferentes,
dependendo de suas aventuras). Mas estes dois personagens têm problemas
fonoaudiológicos em comum. Ambos trocam, de forma similar, o som do “r”
pelo “l”.
“No caso do Cebolinha talvez seja mais compreensível, pois este tipo
de troca ou confusão de sons é comum até certa idade. Até os quatro anos
é perfeitamente normal ocorrer este problema, pois a criança está
aprendendo a articular os sons da fala. Entre os quatro e os seis anos
esse tipo de confusão de grupos consonantais já deveria estar sumindo. O
Cebolinha está um pouco atrasado neste desenvolvimento, mas ainda é
possível reverter este processo”, analisa Débora.
Um problema nos músculos da língua
Além da projeção da língua, estes dois personagens podem ter
problemas de deglutição (dificuldade para engolir alimentos). Talvez por
isso o Frajola tenha tanta dificuldade de dar cabo de seu alimento
predileto, o Piu-Piu (cuja fala infantilizada é provavelmente mais um
problema para um psicólogo do que para o fonoaudiólogo).
A reabilitação da força muscular e readequação da mastigação/deglutição são alguns aspectos que ajudam a reverter quadro.
Sem vírgulas nas frases
“Não há causa determinada para essa alteração de velocidade, pode até
ser uma característica dele enquanto falante. Talvez o núcleo familiar
seja de pessoas que falem rápido e ele só repete o modelo. Atividades
específicas para promoção da fluência com profissional especializado
podem ser o suficiente para ele”, indica a fonoaudióloga.
Os campeões falam fino
“A voz se forma a partir de um conjunto de estruturas. Pulmão, cordas
vocais, garganta, boca, língua são as principais. A voz fina, muitas
vezes, pode ser decorrente de características da própria laringe. Outra
causa, até certa idade, é um atraso na muda vocal. A muda vocal se dá na
adolescência – caracterizada pela voz de ‘taquara rachada’ exatamente
por esse motivo – mas em alguns casos podem demorar um pouco mais para
se adequar, ou então não se adequar de maneira nenhuma e conviver com
esse tom de voz. O Anderson Silva, pode ter uma dessas características,
não se pode afirmar, deveria ser avaliado por um especialista. Já o
Mickey é difícil ter uma ideia da sua idade real, então não é possível
ter certeza ainda. Apenas um especialista, a partir de testes em
consultório poderia dar um diagnóstico mais preciso. Mas acho difícil
isso acontecer”, brinca Débora.
Dessa vez o coelho não escapa
“É uma condição que pode ser causada por problemas anatômicos, ou
ainda, uma dificuldade de movimentação do chamado ‘véu palatino’, que
veda o nariz quando falamos evitando o escape do ar. O problema se
caracteriza pelo escape dos sons orais através do nariz, criando uma
sonoridade reconhecida pela maioria das pessoas. Normalmente, a
reabilitação fonoaudiológica é bastante eficiente para auxiliar na
solução do problema”, afirma a especialista.
Alguns problemas podem ser muito graves
“Primeiro me parece que o Donald tem uma alteração bastante grave na
voz. Pode ser, inclusive, um nódulo vocal. A voz é muito rouca e muito
forçada – o que agrava o quadro. Além disso, há a questão de fluência
alterada, ou seja, pela velocidade excessiva da fala. O Donald seria
caso para uma avaliação por uma equipe multidisciplinar em regime de
urgência”, diz a fonoaudióloga.
Outro que poderia ter algum problema mais complexo seria o Coiote
Coió, um dos maiores consumidores de produtos Acme e cuja fixação pelo
Papa-Léguas lhe rende galos na cabeça o tempo todo. “Ele ouve, mas não
fala. Isso pode ser um indicativo de um problema complicado também,
afinal a comunicação e a fala, em humanos, é algo natural. O que me faz
ficar mais tranquila é que, no final das contas, ele é apenas um coiote,
então não falar não é exatamente um problema”, brinca a especialista.
O Gaguinho tem um problema fonoaudiológico nada difícil de descobrir.
A gagueira, que pode se caracterizar pela repetição de sons, sílabas,
bloqueios, longas pausas, entre outras características. Por ser muito
impactante do ponto de vista social a gagueira não deveria ter graça
alguma.
Brincadeira, mas nem tanto
O texto acima, claro, é uma brincadeira. Afinal o que faz os desenhos
infantis serem engraçados é a suspensão da realidade e a aceitação da
caricatura dentro do contexto das histórias.
Mas os problemas analisados são reais e vários deles podem
comprometer a convivência social ou criar traumas em pessoas que não
sabem a quem recorrer para reverter seu quadro.
Os profissionais indicados para avaliar melhor estes problemas da
fala são os profissionais de fonoaudiologia e os médicos
otorrinolaringologistas, cuja especialidade de nome gigantesco também
pode avaliar – encaminhar para outros especialistas – a maioria dos
problemas citados.
1 comentários:
E como corrigir o problema do patolino? existe algum exercício que se possa fazer? Obrigado.
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