Já foi aqui mencionado que um adulto que interage pela primeira vez com uma criança com TDAH pode ficar surpreendido e um pouco desorientado devido a seu comportamento irregular e descontínuo, inclusive nas manifestações de afeto. As pessoas que não vivem com uma criança hiperativa com frequência tentam interpretar a causa do seu problema atribuindo-a aos pais, acusados, na maioria das vezes, de não terem sabido transmitir as boas normas de comportamento. Das observações clínicas emerge que os pais das crianças com TDAH são particularmente diretivos e impõem regras com maior empenho se comparados com os que não tem filhos com TDAH. Nesse ponto, vem, espontânea, a pergunta sobre quais seriam as verdadeiras responsabilidades dos pais na ocorrência do distúrbio e, por outro lado, quanto seria a criança provocar certos comportamentos nos pais. Para tentar dar uma resposta ao problema, vamos nos reportar ao que foi experimentado nos Estados Unidos.
BARKLEY SELECIONOU DOIS GRUPOS-AMOSTRA DE CRIANÇAS COM TDAH E AMBOS FORAM SUBMETIDOS A UM TRATAMENTO FARMACOLÓGICO COM METILFENIDATO (O PSICOESTIMULANTE USADO PARA O TDAH). NA REALIDADE, SOMENTE UM DOS DOIS GRUPOS USAVA O FÁRMACO; O OUTRO GRUPO ERA DADO UM PLACEBO (UM FÁRMACO SEM QUALQUER PRINCÍPIO ATIVO), SEM QUE FOSSE INFORMADO SOBRE ISSO. DEPOIS DE ALGUNS DIAS DO INÍCIO DA EXPERIÊNCIA, AS CRIANÇAS COM TDAH, QUE TINHAM COMEÇADO A VERDADEIRA TERAPIA FARMACOLÓGICA, APRESENTAVAM MELHORA EVIDENTE DO PONTO DE VISTA DA CONCENTRAÇÃO E DO COMPORTAMENTO. AS MÃES, POR SUA VEZ, DAVAM MENOS ORDENS, REPREENDIAM ESSAS CRIANÇAS MENOS FREQUENTEMENTE, E HAVIAM ASSUMIDO UMA POSTURA MENOS TENSA E DESCONFIADA DIANTE DELAS. DESDE O MOMENTO EM QUE FOI INICIADA A TERAPIA FARMACOLÓGICA, TAMBÉM O RELACIONAMENTO MÃE-FILHO TINHA REGISTRADO UMA MELHORA SENSÍVEL.
O MESMO NÃO ACONTECEU COM AS FAMÍLIAS DAS CRIANÇAS QUE TINHAM TOMADO O PLACEBO, CUJOS COMPORTAMENTOS PERMANECERAM, SUBSTANCIALMENTE, SEM VARIAÇÃO. DESSES RESULTADOS PODE-SE DEDUZIR QUE AS POSTURAS NEGATIVAS DOS GENITORES, EM ESPECIAL AS DAS MÃES, SÃO, PROVAVELMENTE, EXPRESSÃO DE DESCONFORTO DEVIDO AOS COMPORTAMENTOS DESORGANIZADOS E PERTUBADORES DO FILHO, E NÃO SÃO A VERDADEIRA CAUSA DELES.
Embora tais resultados sejam claramente favoráveis a uma visão uniderecional do problema (de que os filhos com TDAH determinam alguns comportamentos negativos dos pais)outros estudiosos, como, por exemplo, Eric Taylor (do Instituto de Psiquiatria de Londres), consideram que seja mais apropriada uma visão bidirecional: ambos os atores (pais e filhos) desempenham um papel tanto na geração como na alimentação daqueles comportamentos. Taylor, afirma, por exemplo que uma mãe deprimida pode ser em parte responsável pelos comportamentos pertubadores do filho com TDAH. Alguns comportamentos da criança seriam, portanto, uma resposta ao pouco calor afetivo, possível em uma mãe com depressão.
Já foi mencionado que também uma vida familiar desorganizada, sem regras, ou na qual os pais apresentam estresse e problemas conjugais, pode fazer surgir nas crianças problemas de atenção ou de hiperatividade. Uma família equilibrada e bem estruturada está em condições de fornecer aos aos filhos um crescimento tranquilo. Se isso é verdade para todas as crianças, é mais verdade ainda para aquelas que têm TDAH, cujo comportamento fica particularmente exposto às influências externas (comportamento não auto-regulado). Regularidade no estilo de vida e coerência na educação são dois elementos essenciais para o desenvolvimento de uma criança.
Consideramos a hipótese mais plausível seja aquela segundo a qual a maioria das crianças já nasce com uma predisposição para desenvolver um TDAH, que depois se estrutura e se alimenta com base no ambiente de crescimento. Isto, somando à educação dada pelos pais, contribui para modelar a personalidade e o comportamento da criança. A predisposição para desenvolver um TDAH não é uma condição patológica, uma doença que precisa ser curada, mas, sim, um dos numerosos traços do temperamento ou da personalidade que vêm herdados dos pais, como o peso, a altura, a inteligência, a cor dos olhos e dos cabelos, ou as habilidades de leitura. A capacidade de regular o próprio comportamento é, portanto, uma dimensão peculiar de cada pessoa, que a distingue das outras, isso não implica, obviamente, que o TDAH não possa ser tratado, mas que deve enfrentado com as estratégias e as terapias corretas.
Fonte: Crianças desatentas e hiperativas
Gian Marco Marzocchi
Edições Loyola