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Fonoaudiologia e Ortodontia: Língua no lugar errado pode causar problemas ortodônticos!


Órgão responsável pela deglutição tem importância também para a configuração dos dentes.
Não é só nossa coluna vertebral que precisa estar posicionada corretamente para evitar problemas de saúde. Acredite, também existe uma postura para a língua. Ela deve estar encostada no palato, e a ponta deve tocar nos quatro dentes frontais superiores. A pressão é leve. Além disso, na hora de engolir o alimento, a língua não pode empurrar os dentes.
De acordo com o dentista britânico John Mew, diretor da London School of Facial Orthotropics, o posicionamento incorreto da língua, a deglutição inadequada e a musculatura fraca dela alteram todo o crescimento da mandíbula. Portanto, quanto mais cedo for identificado o problema, melhor. Mew é o responsável pela criação do conceito de ortotropia na odontologia, que foca no crescimento facial. Segundo o especialista, diferentemente da ortodontia, ela “trata as causas, não os sintomas”.
No Brasil, esse tipo de tratamento é ministrado de forma interdisciplinar, com acompanhamento de dentistas, ortodontistas e fonoaudiólogos. É altamente recomendável que o uso de aparelho ortodôntico seja acompanhado por um fonoaudiólogo, de modo que a língua não pressione certos dentes e eles não voltem a ficar tortos.
Clique na imagem para ampliá-la e entenda as consequências do mau posicionamento lingual! 

Importância fundamental

De importância fundamental na vida humana, a língua é um órgão que participa dos processos de deglutição, fala, mastigação e gustação. Sua superfície superior é coberta por papilas, que conferem um aspecto aveludado ao órgão. Elas são responsáveis pelo reconhecimento do sabor das diferentes substâncias e alimentos. Essa superfície é um local propício para a retenção de restos alimentares e cultura de bactérias e, por isso, deve ser higienizada tanto quanto os dentes.
A língua faz parte da estrutura crânio-mandibular, e a relação entre todos os componentes que cercam a boca é comumente comparada com um balé. Isso porque as variáveis de crescimento envolvem a adaptação harmoniosa de ossos, dentes, língua e arco dentário. Por isso, a língua está diretamente relacionada com a ortodontia, muitas vezes influenciando no desenvolvimento de deformidades.
O correto posicionamento da língua em relaxamento é colada ao palato e com a ponta tocando os incisivos (os quatro dentes centrais) superiores. Essa posição é passiva, e o paciente não deve se preocupar em mantê-la, uma vez que o vácuo formado entre a língua e o palato garante o posicionamento elevado da língua. A posição é mantida como se houvesse uma ventosa, e o toque deve ser leve e sem força, tanto nos dentes quanto no “céu da boca”.
A vedação labial é imprescindível para que esse vácuo se forme. Por isso, pacientes que respiram pela boca têm o posicionamento da língua incorreto, favorecendo problemas ortodônticos como mordida cruzada, mordida aberta, atresia maxilar, apinhamento e retrusão mandibular.
Em casos de macroglossia – crescimento anormal da língua -, o órgão atinge tamanho desproporcional ao da cavidade bucal. Assim, a língua exerce pressão excessiva nos arcos dentários, contribuindo para a movimentação ortodôntica inadequada. Clinicamente, o excesso de força lingual sobre os dentes é facilmente revelado pela presença de borda lingual “amassada”.
Nem sempre a força lingual excessiva é consequente de macroglossia. É muito mais comum que isso ocorra de um vício involuntário do paciente, que se acostuma a uma postura inadequada do órgão ou coloca piercings e desenvolve o hábito de “brincar” com o objeto dentro da boca.
Para corrigir a influência negativa da língua no arco dentário, é necessário identificar exatamente a causa, promovendo a reprogramação da posição lingual. No caso da macroglossia, a correção por meio de cirurgia de redução é necessária, mas as causas posturais podem ser tratadas com intervenção da ortodontista, otorrinolaringologista – no caso de respiração bucal – e conscientização do paciente em relação a seus vícios.

A importância do fonoaudiólogo

Se você usa aparelhos ortodônticos para realinhar os dentes, pode precisar do acompanhamento de outro profissional, além do dentista: o fonoaudiólogo. Isso porque o mau posicionamento da língua pode reduzir a eficácia do tratamento, impedindo que o sorriso fique alinhado ou mesmo atrasando os resultados esperados.
“A postura da língua é apontada como uma das principais causas da ocorrência de recidivas do mau posicionamento dentário. Por exemplo: um paciente com uso prolongado de chupetas está acostumado a repousar a língua entre os dentes anteriores (da frente). Durante o tratamento ortodôntico, este espaço é gradualmente fechado com o aparelho ortodôntico, mas pode abrir novamente, em decorrência da força muscular contínua exercida pela língua”, explica a ortodontista Melanie Gedanke.
Em seu consultório, o fonoaudiólogo Rêniton Moreno recebe pacientes encaminhados pelos dentistas para um tratamento complementar ao uso de aparelhos. Com as alterações no alinhamento dos dentes, esses pacientes precisam reaprender a falar, deglutir, respirar e até mesmo repousar com a língua na posição correta. “Cada tratamento tem uma duração específica, de acordo com o caso, e os resultados são muito bons. O atendimento multidisciplinar é importante para uma série de pacientes”, afirma o especialista.
No tratamento odontológico, muitas vezes, a integração da Ortodontia com outras especialidades da área da saúde é fundamental para obter o resultado desejado. Dentre essas especialidades, a Fonoaudiologia tem papel multidisciplinar na melhoria das funções reparadores e estéticas da Ortodontia. Angle, em 1907, já afirmava que a respiração oral seria a mais potente e constante causa da maloclusão, causando desenvolvimento assimétrico dos músculos, ossos do nariz, maxila, mandíbula e uma desorganização das funções exercidas pelos lábios, bochechas. A saliva é deglutida aproximadamente uma vez a cada dois minutos durante o dia e uma vez a cada três minutos durante a noite. Se a língua estiver posicionada inadequadamente, a força exercida colocará a perder o melhor tratamento ortodôntico para a mordida aberta anterior, por exemplo.
“A recidiva é praticamente certa, pois a causa ou pelo menos uma das causas principais não foi tratada. Não poderemos obter sucesso terapêutico sem o trabalho multidisciplinar nesses casos”, informa Deli Montanari Navas, Fonoaudióloga e Doutora em Ciências na área de Fisiopatologia Experimental pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Assim, os pacientes portadores de alterações miofuncionais orais devem ser avaliados e acompanhados por pelo menos três profissionais: o ortodontista, o fonoaudiólogo e o médico otorrinolaringologista e/ou alergista. “O comprometimento da musculatura e das funções orofaciais leva a uma modificação da forma ou mesmo da oclusão dentária”, acrescenta.
Como a ciência que objetiva, na especialidade de motricidade oral, o restabelecimento das funções respiratórias, mastigatórias, atos de deglutição e fala, visando o equilíbrio miofuncional, a Fonoaudiologia trabalha com a Fonoterapia nos casos de distúrbios orofaciais aplicando exercícios que são capazes de corrigir a respiração bucal, padrões de mastigação e deglutição, bem como vícios posturais da língua, de forma a cooperar com a Ortodontia. Mas para que o sucesso no tratamento seja alcançado, é imprescindível que o ortodontista identifique a necessidade da Fonoterapia e encaminhe o paciente ao fonodiólogo.
De acordo com a doutora Deli, todos os casos em que o ortodontista suspeite de possível comprometimento da musculatura orofacial, tanto em relação ao tônus muscular e as funções quanto em relação a postura dos órgãos fonoarticulatórios – lábios, língua e bochechas – devem ser encaminhados para avaliação e tratamento.
“Funções orofaciais compreendem a respiração, o sopro, a sucção, a mastigação, a deglutição e a fala. A postura é definida como a posição de repouso, ou seja, a forma como o paciente mantém os lábios e a língua quando não está exercendo atividades de fala. É importante a postura da língua e a atividade da musculatura orofacial no momento da deglutição”, explica.
Geralmente, o comprometimento das funções orofaciais é indicativo de alterações muscular e postural, com exceção da fala. Isto porque entre os distúrbios articulatórios existem os chamados distúrbios fonológicos, mais frequentes em crianças que apresentam alterações na produção dos sons da fala, sem que haja comprometimento da habilidade motora. Sua origem é atribuída a alguma dificuldade de organização entre a percepção e a produção da fala. Mas o correto diagnóstico só pode ser feito por um profissional especializado; por isso a Ortodontia, que trata da forma, e a fonoaudiologia, que cuida da função, têm que trabalhar em conjunto, avaliar as possibilidades, trocar informações e planejar o melhor tratamento.
Para a doutora Deli, o início do tratamento é o momento ideal para que o ortodontista encaminhe o paciente ao fonoaudiólogo, de preferência durante o período de estudo do caso. “Acredito que o diagnóstico e o planejamento terapêutico seriam muito mais fáceis e corretos se houvesse uma associação fonoaudiológica e ortodôntica”, ressalta. Por outro lado, caso o paciente passe primeiro por um fonoaudiólogo e este perceber qualquer tipo de alteração oclusal, deve encaminha-lo a um ortodontista para avaliação e planejamento terapêutico.
“Não existem regras, pois há muitas variáveis entre os casos. A melhor atitude é a discussão entre os profissionais, caso a caso, para sabermos qual tratamento devemos priorizar”, pondera doutora Deli. Como exemplo, ela cita algumas discrepâncias entre maxila e mandíbula no sentido vertical ou sagital, em que o fechamento labial torna-se impossível, impedindo o estabelecimento do padrão respiratório nasal. “Nestes casos, seria indicado primeiramente um aprimoramento da condição morfológica para melhores resultados posteriores no tratamento fonoaudiológico. É muito importante que o ortodontista, quando em casos de suspeita de alteração miofuncional oral, não finalize o tratamento sem uma avaliação fonoaudiológica prévia, pelo risco de recidivas”, completa.
O tratamento com Fonoterapia abrange todas as faixas etárias, ou seja, não existe um limite de idade para submeter-se aos exercícios. Segundo a doutora Deli, o que importa, na verdade, é o caso e a motivação. “Os adultos têm uma plasticidade menor, mas o que vale mesmo é o empenho, pois muitos dos exercícios requerem atenção e dedicação”, garante. Existem alguns casos que são mais difíceis de se trabalhar, como por exemplo, quando a morfologia não ajuda, e o paciente entre a cavidade oral e a língua.
Na verdade, o sucesso do tratamento fonoaudiológico depende de uma eficiente respiração nasal. Tanto as obstruções causadas por hipertrofias adenoamigdalinas como as alergias ou rinites dificultam o sucesso terapêutico. Por isso, nos casos de obstruções nasais é fundamental, já na avaliação, encaminhar os pacientes para o tratamento. Sem a desobstrução das vias áreas superiores, o tratamento fonoaudiológico fica extremamente comprometido ou impossibilitado, causando desgaste do paciente e resultados pobres. “O que mantém o tônus muscular é a posição de repouso adequada: respiração nasal, boca fechada e postura de língua correta. Se o paciente não consegue respirar bem pelo nariz, a boca fará esse trabalho, comprometendo o tratamento”, esclarece.
Outro fator importante, de acordo com a doutora Deli, é a motivação do paciente e da família para o tratamento, que muitas vezes exige exercícios diários. “O processo de motivação é iniciado a partir da forma como o paciente foi encaminhado para o tratamento fonoaudiológico. O profissional que o encaminha deve explicar previamente sobre a importância desse tratamento para o sucesso no resultado final: ortodôntico e fonoaudiológico, informando que são interdependentes. Todas as técnicas utilizadas pelo fonoaudiólogo devem ser explicadas ao paciente, utilizando linguagem adequada para cada idade, para que este esteja envolvido no processo terapêutico, obtendo assim resultados mais rápidos e satisfatórios, antes que a motivação se esvaia. Os músculos orofaciais respondem muito rapidamente ao trabalho miofuncional, quando bem orientado e executado. Os resultados rápidos funcionam como reforço positivo a continuidade do tratamento. Normalmente os resultados fonoaudiológicos são conseguidos muito anteriormente aos resultados ortodônticos. Portanto, os pacientes permanecem em acompanhamento por períodos mais espaçados e prolongados até o final completo do tratamento, aproveitando este tempo para a garantia do processo de automotivação dos padrões e posturas trabalhados, realizado pelo sistema nervoso central”, destaca.

A fonoaudiologia pode atuar ainda na prevenção dos distúrbios orofaciais, por meio de orientação as mães ainda na maternidade. A forma correta da amamentação, a introdução das diversas consistências de alimentos no momento certo e a atenção com relação aos possíveis hábitos nocivos da criança, como chupar chupeta e dedos por período prolongado, são fatores essenciais para evitar problemas no padrão de deglutição infantil e que podem ocasionar mal-posicionamento dos dentes.

Fonte: www.lersaude.com.br

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