Luria e sua Abordagem Neuropsicológica
A Neuropsicologia é uma área interdisciplinar que envolve a Neurologia, Psicologia, Psiquiatria, Fonoaudiologia Linguística dentre outras áreas. O objetivo é estudar as relações entre as funções psicológicas e sua base neurológica (Oliveira, 1997).
Para entender melhor o contexto científico da época é interessante lembrar as duas vertentes quanto ao funcionamento do cérebro. A visão mecanicista da localização cerebral tem por característica a ideia de que cada função mental é plenamente controlada por uma área cortical. Broca (1861) destacou-se nessa posição quando sugeriu que “o terço posterior do giro frontal inferior esquerdo é o centro das imagens motoras da palavra” (in Kagan&Saling, 1997).
Já a visão integral ou holística sugere não haver fragmentação, mas que a função mental deveria ser concebida como um produto do funcionamento global do córtex cerebral.
Alexander Romanovich Luria, influenciado pelos estudos de Pavlov e Vygotsky, revê essas visões extremas e cria novos conceitos que tornam-se muito úteis no estudo da Afasiologia, por exemplo.
Oliveira (1997) chega a afirmar que dentro dos colaboradores de Vygotsky, Luria foi quem mais se dedicou ao estudo das funções psicológicas relacionadas ao sistema nervoso central, tornando-se o mais conhecido neuropsicólogo do mundo.
Desenvolve, então, um estudo sobre a organização cerebral das funções mentais superiores. Conceituando-as como sistemas funcionais muito complexos que exigem a cooperação de partes diferentes do cérebro.
Unidade I – suas estruturas estão situadas no tronco cerebral (cujo componente importante é o sistema de ativação reticular – RAS) e nas superfícies mediais dos hemisférios cerebrais (cujo componente predominante consiste nas diversas estruturas do sistema límbico). Essa unidade é responsável por regular a estimulação; o estado de consciência; o tônus cortical ideal.
Unidade II – consiste nos lóbulos parietal, temporal e occipital. É responsável por receber, analisar e armazenar as informações que chegam através do input auditivo, visual e tátil-cinestésico.
Unidade III – consiste nos lóbulos frontais. Responsável pela programação, regulação e verificação da ação. Além de se caracterizar por conexões complexas com todo o córtex.
Um postulado básico da teoria de Luria é que embora cada unidade tenha uma função específica, a cognição depende da colaboração entre as 3 unidades. A percepção visual, por exemplo, envolve o estado de consciência adequado (unidade I), a análise e síntese da informação recebida pelo sistema visual (unidade II) e os movimentos dos olhos pelas partes do objeto a ser percebido (unidade III) (Oliveira, 1997).
Outro postulado importante em sua teoria é o problema primário. Qualquer lesão vai gerar um problema primário, mas dependendo da área afetada o problema se manifestará de formas diferentes. A esta manifestação visível, Luria denomina efeito secundário ou sistêmico. A exata natureza do problema ele chama de problema primário. Por exemplo, se o problema primário é um colapso na organização sequencial do movimento, o efeito sistêmico sobre a linguagem expressiva seria a dificuldade em combinar posturas articulatórias (Kagan&Saling, 1997).
Portanto, ao tentar localizar o dano cortical responsável por um problema em função mental superior é preciso identificar o problema primário. Sendo essencial para isso, entender o sistema funcional.
Lembrando que uma lesão focalizada pode resultar em diversos sintomas aparentemente não relacionados, pois uma área cortical pode ter ligação com vários sistemas funcionais.
Isto é análise neuropsicológica.
Referências bibliográficas:
KAGAN, Aura & SALING, Michael M. Uma introdução à afasiologia de Luria. Teoria e Aplicação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
OLIVEIRA, Marta Kohl de. Vygotsky. Aprendizado e desenvolvimento. Um processo sócio-histórico. SP: Scipione, 1997.
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