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AS EMOÇÕES E OS ESTILOS DE APRENDIZAGEM NO PROCESSO DE ENSINAR E APRENDER


AS EMOÇÕES E OS ESTILOS DE APRENDIZAGEM NO PROCESSO DE ENSINAR E APRENDER
Isabel Cristina Hierro Parolin


De 09 a 11 de Julho acontecerá na UNIP o 8° Congresso Brasileiro de Psicopedagogia em São Paulo e sua palestra será sobre “As emoções e os estilos de aprendizagem no processo de ensinar e aprender”.  Em sua opinião, quais as principais mudanças que ocorreram no processo ensino-aprendizagem nestas últimas décadas?
Temos aqui, algumas formas de responder a essa pergunta e me perdoem se pareço promover uma dicotomia entre teoria e prática, contudo, minha experiência tanto em consultório, como consultora e professora me autoriza a destacar alguns pontos:
As pesquisas e a academia avançaram qualitativamente no entendimento de como a aprendizagem acontece, as repercussões da aprendizagem no aprendiz e em seu entorno, no entendimento da relação entre os diferentes estilos de ensinar e as repercussões desse estilo na formação da criança. Diante dos inúmeros avanços, destaco de forma especial a importância do par-educativo: a qualidade da relação vincular entre o sujeito que aprende e ensina. A compreensão de que a aprendizagem acontece num interjogo entre o grupo e para o grupo, se respalda em teorias interessantes e consistentes, que podem vir a viabilizar práticas educativas mais competentes. Dito de outra forma, o entendimento de que o ato de ensinar e de aprender acontecem num processo, que tem uma história social e individual, num clima emocional, com tipificações de um determinado aprendiz, que repercute em uma situação de aprendizagem ou ainda, de não aprendizagem, tem sido para mim, dentre todos os avanços conquistados, o que mais chama atenção.
Outra maneira de responder é afirmar que muito pouco mudou na forma cuja aprendizagem e compreendida e o ensino é encaminhado em um grande número de salas de aula brasileira, apesar de todos os estudos, pesquisas e propostas metodológicas que temos acesso. Muitos professores, ainda “dão” aula e esperam que seus alunos “peguem” essa aula, tal qual ela foi concebida e planejada. Nessa dinâmica, o professor explica como ele articula determinado assunto e o aluno deve entender o raciocínio do professor e reproduzir 60% do que foi explicado em sala de aula. Na continuidade dessa tendência, o silêncio é ícone de atenção e os alunos sentam-se um atrás do outro, “para não conversarem e se distraírem”, o que, aliás, acaba gerando muita queixa de distração e indisciplina, numa espécie de efeito rebote. A partir dessas práticas temos produzido dificuldades com a aprendizagem em uma estatística não desejável e poucas oportunidades de aprendizagem.
Vivemos um desencontro entre os conhecimentos que nos são ofertados para respaldar a prática em sala de aula e o que o professor pratica, quando esta “dando” sua aula. A repercussão social desse distanciamento entre o que se faz e o que se pensa nas salas de aula é o grande número de crianças ditas com Déficits, com dificuldades e necessitando de inclusão escolar, atendimentos fora da escola em forma de aulas particulares e mesmo assim, não aprendendo. (lembro dos índices alcançados pelo Brasil pelo PISA 2007, dentre outras avaliações de resultados equivalentes)
Contudo, não se pode afirmar que nada aconteceu, no entanto, a proximidade entre os avanços teóricos deveriam chegar á prática escolar de forma mais rápida e eficiente. O que lamento é a demora ou a dificuldade dessa aproximação. Parece-me que esta faltando mais políticas públicas; mais ações competentes, diretivas e administrativas; mais verbas; mais consciência e mobilização social; mais parcerias; mais oportunidades para melhores qualificações dos professores; e mais compromisso com a missão social de promover educação de boa qualidade.
Como Henri Wallon contribuiu com a teoria psicogenética nesse processo?
A grande contribuição desse pensador é ele afirmar dentre outras coisas: o que destaco abaixo e que tem ajudado a entender a relação entre o sujeito que aprende e seu ensinante. Destaco:
•“As emoções são as manifestações da afetividade e a expressão dos sentimentos. Têm caráter de visibilidade, e é por meio delas que os educadores podem conseguir pistas do que está acontecendo com seus alunos: respiração, agitação, expressões faciais, olhares etc.”
•“o ser humano é uma síntese entre o ser orgânico e o ser social; todavia, aos poucos, o ser biológico vai dando espaço ao ser social. A inserção cultural, portanto, é determinante para o pleno desenvolvimento da criança.”
•“o movimento é a expressividade das inteligências. Os movimentos revelam a forma, os domínios e a organização dos pensamentos. Toda atividade pressupõe um tônus muscular que lhe é próprio, e cabe ao sujeito aprender a regular a tonicidade em consonância com a natureza da tarefa.”
•“sem o vínculo afetivo não há aprendizagem. Aprender é um investimento que o sujeito empreende e, para que isso ocorra, é necessário um clima emocional que seja favorável a esse esforço.”
(trechos retirados do site WWW.isabelparolin.com.br, texto As emoções e os estilos de aprendizagem)
Como você define aprendizagem?O grupo de pesquisa do qual faço parte (Aprendizagem e Conhecimento na Ação Educativa da PUCPR), que é coordenado pela professora psicopedagoga e doutora Evelise Portilho, elaborou um conceito que me agrada muito e que, por enquanto, atende as minhas necessidades de definir aprendizagem e de encaminhar os processos de aprendizagem.
Entendemos que:
Aprender é desenvolver-se.
Aprendizagem é um processo que envolve vínculos individuais e coletivos que resultam das interações do sujeito com o meio, da ação do cuidador e das articulações entre o saber e o não saber. É um processo permeado, no caso do ser humano, por um clima e um tom sócio-afetivo, que produz instrumentos para mudar a si e ao mundo e vice-versa. É um movimento que envolve o mundo íntimo, a subjetividade, o desejo; e também o contexto no qual se dá. É o processo de conhecer; é o processo de vida que se dá por articulações possíveis e que amplia os domínios cognitivos para conexões cada vez mais complexas.
Aprender é envolver-se.
O que falta nas escolas para um aprendizado mais efetivo?
Novamente me vejo diante de inúmeras possibilidades de resposta (penso em todos os setores da sociedade que se eximem de suas tarefas), todavia a que me ocorre por primeiro é a palavra “compromisso” - Compromisso social com a profissão adotada, compromisso com o outro e com a oportunidade de aprender de um aluno e por fim, compromisso com a repercussão na sociedade da sua falta de compromisso.
Qual a importância do clima emocional na mediação das aprendizagens?
O clima emocional, o tom e a temperatura em que ocorrem as relações, são o que garantem ou inviabilizam uma aprendizagem, uma escuta ou uma reflexão. Exemplifico: Uma jovem, cursando o segundo grau, afirma veementemente: “Odeio matemática!”... (suspira e assopra) “Odeio o professor de matemática!”... (suspira e assopra novamente, mais forte) “Na verdade me odeio!” (fala se movimentando muito e bate no peito) Olhei para a jovem e perguntei: “Você sempre odiou matemática?” “Não! Até a oitava série eu até que gostava, até que ia bem!” O que você odeia no professor de Matemática? Perguntei a ela, seguindo a seqüência do desabafo dela. “Ele é um cretino... Não ensina direito e me faz pensar que sou idiota e burra!” E é por isso que você se odeia? Afirmei, encarando-a. “E você acha pouco?”
Sendo as emoções manifestações da afetividade, o educador que tem maior visibilidade, sensibilidade e afetividade estabelece uma boa relação com seus alunos, promovendo um ambiente propício para a aprendizagem. Se a frase é verdadeira, como podemos analisar o sucesso que algumas escolas obtêm, quando a única preocupação é serem as melhores no ranking, onde não há tempo para se estabelecer uma relação mais afetuosa entre docente e alunos?
Depende do conceito que norteará a concepção de sucesso. Se sucesso for passar no vestibular e se formar, tendo o diploma como bem maior, o conceito de educação é um (que, aliás, não me interessa falar dele). Todavia, se o conceito for de formação de um cidadão competente, integrado e preparado para atender às necessidades sociais, esse “sucesso” é relativo. O bom profissional se caracteriza por uma boa ação, que faça bem a ele e ao outro (Terezinha Rios fala sobre isso) com boas repercussões em nosso contexto. Se fizermos uma análise social, nos diferentes segmentos profissionais, veremos que a Universidade não garante essa boa formação em si mesma. Para dar mais força a essa visão, lembro a força mercadológica, em forma de receitas, medicamento, que tem tido em nossa sociedade dos conceitos em torno da felicidade, da auto-estima, do bem-estar, do equilíbrio, etc.
Em sua experiência profissional, o grande o número de crianças/adolescentes que são encaminhados aos consultórios tendo como queixa problemas de aprendizagem, tem realmente algum problema ou o problema na maioria das vezes é escola?Um grande número de crianças encaminhadas como tendo dificuldades de aprendizagem, na verdade, tem dificuldades com sua aprendizagem. Nesse “com”, vamos ter as dificuldades que a escola tem de ensino com essa criança e as dificuldades que a família tem com o seu filho no enquadramento dele como aprendiz.
Que mensagem deixa aos congressistas, participantes e a todos os psicopedagogos?
Aprendi com a já citada nessa entrevista a Prof.ª Terezinha Rios que o trabalho educativo deve ser de “boa qualidade”, portanto, estendo essa aprendizagem para desejar aos congressistas que tenham a oportunidade de refletir e repensar suas práticas, de reorganizar suas crenças de forma a produzirmos um trabalho que faça bem a si e ao outro. Um trabalho que faça a diferença.


Isabel Cristina Hierro Parolin - Pedagoga pela PUC-PR, Especialista em Psicodrama e Psicopedagogia e Mestre em Psicologia da Educação pela PUC-SP. Atende crianças e jovens em seu processo de aprender ou de não-aprender, assim como a suas famílias, objetivando ações educativas. Consultora institucional, em todo o Brasil, de escolas públicas e privadas. Professora em cursos de pós-graduação em psicopedagogia e áreas correlatas. Pesquisadora do grupo “Aprendizagem e Conhecimento na ação educativa” da PUCPR. Palestrante para pais e professores. Conselheira da Associação Brasileira de Psicopedagogia PR-SUL. Participou de eventos educacionais no Japão, Áustria, Bulgária, Alemanha e Espanha. Autora de vários livros e artigos em revistas, jornais e sites relacionados à aprendizagem e à educação.

Fonte: http://www.psicopedagogia.com.br/entrevistas/entrevista.asp?entrID=117

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